quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Série: "Música Orgulho Sul-mato-grossense" - Zé Pretim


José Geraldo Rodrigues, o “Zé Pretim”, nasceu em 1954 em Inhapim, cidade mineira situada no vale do Jequitinhonha, às margens da rodovia Rio-Bahia. Autodidata, aprendeu a tocar violão na roça, observando os mais velhos tocando, até que um dia ganhou o seu primeiro violão, segundo ele mesmo conta, ao ser desafiado a “tirar de ouvido” a introdução da música “Menino da Porteira”. Hoje é um dos ícones da música Sul Mato-grossense e do Blues nacional. 

Tive a oportunidade de retratar a bluesman durante a participação dele no show de Estréia do Projeto MPBlues, no SESC Morada dos Baís, em Campo Grande MS. O músico foi um dos mais citados para fazer parte desta Série, que retrará grandes nomes da música do Mato Grosso do Sul. Em cerca de 40 minutos utilizei a tinta acrílica, água e alguns pinceis, para dar forma a obra, ressaltando o sorriso aberto e a simpatia do Zé.

Aqui vai um pouquinho da sua trajetória até os dias atuais...

Quando adolescente, por volta de 1971, a família se mudou para o antigo estado do Mato Grosso. Primeiramente em Rondonópolis, e finalmente se fixando em Campo Grande-MS. Zé Pretim já possuía uma certa habilidade no instrumento, e começou a tocar pelos clubes, bares e lanchonetes da futura Capital do Mato Grosso do Sul. Seu nome começou a ficar conhecido pela cidade, e começou a receber convites e tocar nas bandas mais conhecidas da cidade, primeiramente o Zutrik, de Miguelito (músico renomado e respeitado até hoje em Campo Grande), e posteriormente no Euphoria, do Bosco, outro músico muito conhecido, hoje principalmente por ter sido o fundador e baterista do Bando do Velho Jack, e ter tocado com quase todos os artistas de renome do Estado.

Nos anos 80, Zé Pretim começou a assumir sua identidade “solo”, e desenvolver seu estilo pessoal de tocar uma mistura do Blues com as músicas caipiras que aprendeu desde criança na roça. Suas músicas misturam o Blues aos ritmos que ele aprendeu na roça, e depois como “músico de baile”, Você encontra em seu trabalho o Blues, a Moda de Viola, o Forró, música romântica, muitas vezes tudo isso misturado numa mesma música. Posteriormente passou a fazer o mesmo com as músicas sulmatogrossenses, que conheceu a partir do momento em que se mudou para o MS. Destacam-se suas releituras “bluesy” para “Trem do Pantanal” (G. Roca / P. Simões) e para o clássico de Luiz Gonzaga “Asa Branca”. Esta última, anos depois chamou a atenção da jornalista Mariana Godoy, que o levou até o Jô Soares.

Foto: Arquivo Portal Educativa
Durante os anos 80 e 90, Zé pretim se tornou um verdadeiro “nômade da música”, e percorreu todo o Brasil com sua música, morando um pouco aqui, outro pouco ali... Sempre retornando a Campo Grande se fixou, mas morou em vários lugares do Brasil onde levou a sua arte: Belém (PA), São Luiz (MA), Fortaleza (CE), Florianópolis (SC), Cuiabá e Rondonópolis (MT), Porto Velho (RO). Também viveu nos perigosos garimpos, onde ele tocava e conta histórias onde esteve frente a frente com a morte.

Depois de todas essas andanças, no final dos anos 90, Zé decidiu se fixar em Rondonópolis, onde casou-se e teve seu filho Geraldo Miguel. Mas acabou não se adaptando, e voltou para Campo Grande, onde finalmente fixou morada. Esporadicamente fazia algumas temporadas em Rondonópolis e Cuiabá, e numa dessas temporadas, em 2005 a jornalista da TV Globo, Mariana Godoy o conheceu em Rondonópolis e ficou encantada com suas histórias e suas releituras Blues para clássicos da música brasileira, e levou seu material até o Jô Soares, que o trouxe para uma entrevista em seu programa.

Quando parecia que os caminhos para algo maior se abriam para o Zé Pretim, inesperadamente ele sofre um acidente de mototáxi , e fratura o fêmur e a bacia. Com isso ele teve sérios problemas de locomoção, ficou mais de 6 meses sem poder exercer a música, que era o seu único sustento, posteriormente teve que utilizar muletas por mais de dois anos, e depois a bengala. Sua vida, que já era modesta, encontrou sérias dificuldades já que ele não podia trabalhar para se sustentar, e durante esse tempo contou com a ajuda de amigos músicos que faziam várias promoções para ajudá-lo. No meio de toda essa dificuldade, sua mãe, que também o ajudava, faleceu. Todos esses problemas acabaram contribuindo para que o Zé Pretim caísse no alcoolismo e no uso de drogas.

Em 2015, ele se viu na famosa “encruzilhada”, um termo bastante familiar para os músicos e fãs de Blues, mas não era a famosa “crossroads” cantada pelas músicas de Robert Johnson. Era uma verdadeira “encruzilhada da vida”, onde ele precisava escolher entre a vida e a morte. E ele optou pela vida. Com a ajuda de alguns amigos, buscou ajuda e se internou em uma clínica próxima a Campo Grande, onde ficou internado por um ano e dois meses tratando de sua saúde, e hoje está de volta ao seu melhor, graças à força que teve para mudar de vida.

O músico Luis Henrique Avila, Zé Pretim e Milla Freitas. Foto: Aurélio Vinicius

Nenhum comentário:

Postar um comentário